Perestroika
significa reconstrução e consistia na tentativa de recuperação soviética;
enquanto que Glasnost significa transparência e visava à liberdade de expressão
da sociedade.
Se hoje
percebemos a globalização pelo papel assumido pela internet, pela
complexalização e ampliação das transações comerciais e financeiras ou pela
velocidade com que as informações chegam até nós, é importante ressaltar que
isso tudo é, de certo modo, consequência de vários fatores históricos – dentre
eles, o fim da Guerra Fria. Sendo assim, compreender minimamente as mudanças
ocorridas na URSS ao final dos anos 1980, com o advento da Perestroika e da
Glasnost, é fundamental não apenas para a compreensão do que desencadeou o fim
do bloco socialista, mas também para o entendimento de como se daria mais tarde
a configuração de uma nova ordem mundial.
Em 1989 chegava ao fim a chamada
Guerra Fria, período no qual o mundo esteve dividido em dois blocos: de um
lado, o bloco capitalista representado pelos EUA; e, do outro, o bloco
socialista representado pela URSS, liderado pela Rússia. Terminada a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945), em 1946 começaria um período marcado por uma forte
disputa pelo domínio ideológico entre tais blocos, bem como pela chamada
corrida espacial e tecnológica. O final dessa história já se sabe, pois o
modelo capitalista saiu vitorioso após as reformas econômicas e políticas
promovidas pela União Soviética quando esta já agonizava, sem condições de
manter o projeto socialista e o seu modelo de Estado de bem-estar social. Mas o
começo do fim estaria no processo de mudanças internas na URSS, que começou na
metade da década de 1980, com Mikhail Gorbachev enquanto secretário-geral do
Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, que mais tarde
promoveria a implantação da Perestroika e da Glasnost.
Conforme aponta Octavio Ianni em seu
livro A Sociedade Global (1995), a Perestroika, palavra que pode ser traduzida
por reconstrução, “pôs em prática mudanças profundas na estrutura do sistema
econômico soviético, com a substituição dos mecanismos de economia centralmente
planificada pelos mecanismos de economia de mercado”. (IANNI, p. 12). Tratou-se
de uma reestruturação econômica e reorientação dos gastos públicos,
diminuindo-se, por exemplo, os investimentos na área da defesa. Considerando-se
o estabelecimento de uma “corrida espacial” entre EUA e URSS materializada na
disputa pelo domínio das tecnologias de defesa (produção de bombas nucleares) e
para exploração do espaço (a exemplo da criação de satélites e foguetes), a
URSS, encabeçada pela Rússia, comprometia sua economia interna e, dessa forma,
o funcionamento de seu modelo de Estado de bem-estar social. Mikhail Gorbachev,
sendo citado por Octavio Ianni, afirmaria que: “A perestroika é uma necessidade
urgente que surgiu da profundidade dos processos de desenvolvimento em nossa
sociedade socialista. Esta encontra-se pronta para ser mudada e há muito tempo
que anseia por mudanças. Qualquer demora para implantar a perestroika poderia
levar, num futuro próximo, a uma situação interna exacerbada que, em termos
claros, constituiria um terreno fértil para uma grave crise social, econômica e
política [...]”. (ibidem, p. 12). Obviamente, é preciso ressaltar que a
Perestroika enquanto reforma não objetivava, necessariamente, a rendição ao
bloco capitalista, mas sim a tentativa de recuperação soviética.
Mas as reformas, como se sabe, não se
pautaram apenas do ponto de vista econômico, mas também político, promovendo-se
(também no bojo dessas mudanças) a chamada Glasnost, palavra que em russo está
ligada à ideia de transparência. A alusão à ideia de transparência estaria no
sentido do abrandamento do poder e da presença de um estado forte, cerceador de
liberdades. Logo, paralelamente às mudanças promovidas pela Perestroika,
estaria a tentativa de uma maior abertura para uma liberdade de expressão da
sociedade (que até então não poderia reclamar quanto ao governo), ao mesmo
tempo em que surgia um esforço para uma maior transparência das ações do
governo, o que refletiria na política positivamente. Assim, como aponta Ianni
(1995), a Glasnost teria inaugurado a democratização, e dessa forma a quebra do
monopólio da vida política nacional pelo Partido Comunista e o abandono do
esquema Estado-partido-sindicato, promovendo uma maior transparência nas
relações políticas. Dessa forma, desarticulavam-se as bases da União Soviética
e, ao final dos anos 80, assistia-se a queda do muro de Berlim, símbolo da
divisão do mundo, o que significaria a vitória da ideologia capitalista.
Tem-se, desde então, a configuração de uma nova ordem mundial, iniciada pela
reorganização das relações internacionais.
Assim, tais reformas promovidas pelo
governo soviético representaram o desmonte do chamado socialismo real,
caracterizado em linhas gerais por um sistema de partido único, com um governo
centralizador com forte controle não apenas na política, mas na economia e na
cultura. Atualmente, a China seria um país com um modelo político-administrativo
muito próximo daquilo que foi a URSS, mas diferencia-se, fundamentalmente, pela
forma como aderiu ao capitalismo enquanto modo de produção da vida, tornando-se
uma das sociedades mais complexas aos olhos de analistas de todo o mundo.
Referências:
IANNI, Octavio. A Sociedade Global. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1995
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