COMPLEMENTAÇÃO DA HISTÓRIA VERBAL DE CORAÇÃO DE JESUS/MG

Coração de Jesus/MG
(foto:Selma Galiza)
Complementando a história de Coração de Jesus, escreverei um pouco sobre o “Casarão dos Rabelos”, que fica no início da Avenida Canabrava, próximo ao Cemitério Velho.
            Hoje, abril de 2019,  este Casarão faz parte dos monumentos históricos de Coração de Jesus/Mg.
            De todos os Casarões existentes, é um dos mais antigos em estilo colonial,  sede da Chácara do Canabrava,  conhecido pelos corjesuenses, principalmente os mais antigos, como o “Prainha”. Lugar onde na juventude dos anos 1930/90, muitos jovens e crianças divertiam-se às margens do Rio Canabrava em uma região popularmente conhecida  como a Prainha, que fica nas proximidades da sede desta Fazenda.
Terezinha Vasconcelos e João Galiza, em piquenique no rio Canabrava, "prainha" no ano de 1934
(foto: arquivos de João Galiza)
Quantas vezes já fomos nadar na Prainha, quantas vezes corremos de vacas bravas que eram soltas por lá!” Relatam alguns conhecidos. Quantas vezes a garotada foi a esta Prainha para colher, aliás, "pegar"  mangabas, pitombas, goiabas, coco macaúbas, castanhas e outros diversos frutos  do Cerrado que eram  encontrados nesta região, em grandes quantidades... Além de nadarem no rio Canabrava.
CASARÃO DOS BATISTAS
(Foto:Selma Galiza)
Dados da propriedade Chácara do Canabrava***  
A propriedade rural e urbana Chácara do Canabrava, nos subúrbios desta cidade de Coração de Jesus, Minas Gerais, às margens do Córrego Canabrava, com área de 200,16 hectares, em terrenos de cultura e Campo, encontra-se situada, uma casa sede denominada Chácara do Canabrava, na Rua Firmino Duarte, 203, Centro da Cidade, com duas portas e 6 janelas de frente, de 3 lances, coberta de telhas com frente para a Rua Firmino Duarte, com quintal cercado de arame farpado e achas de aroeira, ... Inclusive, existiam currais pregados na casa sede. Hoje existentes nos fundos do quintal.
Segundo historiadores, a casa Chácara do Canabrava, foi construída pela viúva conhecida por Dona Francelina ,que vendeu para o senhor Herculano Cândido Rabelo, pai de Dona Josefina Rabelo Conceição, que foi esposa do senhor Aristides Batista da Conceição, Ex.Prefeito desta cidade.
Com o falecimento do Senhor Herculano Cândido Rabelo, parte da propriedade ficou como herança para sua filha Josefina Rabelo Conceição e parte da sua terceira viúva, Dona Maria das Dores Rabelo, sendo que o senhor Aristides Batista Conceição, esposo de Dona Josefina Rabelo Conceição, adquiriu a parte da viúva e de outros formando a área total da propriedade, tudo conforme transcrições no registro de imóveis desta cidade e Comarca de Coração de Jesus Minas Gerais, sobre números 469, ... 1712.
Frente do Casarão dos Batistas
(Foto:Selma Galiza)
Na casa sede, Chácara do Canabrava, seus proprietários Aristides Batista da Conceição e esposa Josefina Rabelo Conceição, criou seus oito filhos, Sofia Rabelo Conceição, professora que foi casada com o senhor Luigi Nuzzi, Manoel Batista da Conceição, médico, foi casado com Jane Maria Batista, já falecido, Herculano Rabelo da Conceição, médico casado com Maria da Consolação Martins Rabelo, já falecida. Cecy Rabelo da Conceição Maia, contadora, viúva de João Maia Magalhães, Raimunda Nonata Rabelo Conceição, dentista falecida, Raimundo Nonato Rabelo Conceição, economista, casado com Antônia Marta Guimarães Rabelo, Hamilton Rabelo  da Conceição, médico casado com Maria Antunes, Pulquério Rabelo da Conceição, advogado casado com Nilda Lafetá Rabelo.
Com o falecimento do Senhor Aristides Batista Conceição, ocorrido em 24 de novembro de 1969, em seu inventário julgado em 1970, a propriedade com benfeitorias, inclusive, a casa sede Chácara do Canabrava, ficou para Dona Josefina Rabelo Conceição, transcrito no registro de imóveis sobre o número 452.
Em 25 de maio de 1977, Dona Josefina Rabelo doou a propriedade com benfeitorias, inclusive, a casa sede, Chácara do Canabrava para seu filho Pulquério Rabelo da Conceição, “Dr. Pulu”, conforme transcrição no registro de imóveis desta cidade sobre o número R 1/452, folhas 52, livro 2 b.
            Em 23 de setembro de 2003, conforme lei municipal de nº 395, sancionada em 14 de abril de 1997, a casa sede Chácara do Canabrava, foi Tombada pelo então Secretário de Cultura e comunicação senhor Wagner Leal Silva e pela Presidente do Conselho Municipal de Cultura de Coração de Jesus, Minas Gerais, Dona Maria Eloá Lafetá Vasconcelos para o patrimônio Municipal de Coração de Jesus, com o nome de “Casarão dos Batistas”.
Toda a propriedade, com a chave da casa sede “Chácara do Canabrava”, hoje denominada “Casarão dos Batistas”, continua pertencendo a Dr. Pulquério Rabelo da Conceição.***
Quintal do Casarão dos Batistas
(foto:Selma Galiza)
            No fundo do quintal deste casarão, existia um Engenho, mais conhecido como Trapiche que é, uma máquina destinada a moer a cana de açúcar, que consiste numa estrutura fixa onde se encontra um conjunto de ao menos dois cilindros, um recipiente, e um braço destinado a fazer rodar os cilindros. A máquina é movida a tração animal, geralmente bois. Para o efeito usa-se um animal, preso a uma das extremidades do braço, ou dois, podendo o segundo animal estar preso na outra extremidade do braço, ou ao lado do primeiro animal. O movimento circular do(s) animal(ais ) à volta da estrutura fixa faz acionar o conjunto de cilindros que vão girando, em sentidos opostos. A máquina é operada por dois trabalhadores, cada um colocado num dos lados da estrutura, que vão introduzindo, alternativamente, a cana nas finas ranhuras entre os cilindros. A cana é assim moída, e o suco da cana (calda ou garapa) é recolhido no recipiente colocado por baixo dos cilindros, para futuro tratamento.
Engenho doméstico de tração animal
            No Brasil, os trapiches foram usados nos engenhos de fabricação de açúcar. No período da escravatura, o trabalho animal chegou inclusive a ser ocasionalmente executado por escravos.
            Existiam também, no “Casarão dos Batistas”, dois Moinhos de moer milho, um Monjolo de solar arroz e uma gangorra. Monjolo é uma máquina hidráulicas rústicas, destinadas ao beneficiamento e moagem de grãos. A ferramenta foi importante, pois dispensava o uso de mão-de-obra escrava, que antes utilizava um pilão que trituravam os grãos de milho ou de arroz.
Pode ser usado para descascar e triturar grãos secos, resultando numa farinha mais espessa. Diversos alimentos, como o fubá e a farinha de milho, eram produzidos por meio do esmagamento nos monjolos. A ferramenta tinha capacidade de socar até trinta litros de milho em uma hora e meia. A expressão popular "trabalhar de graça, só monjolo" surgiu daí. Os monjolos, além de ecologicamente corretos, foram fundamentais para o desenvolvimento das atividades rurais nos séculos XVIII, XIX e XX.
Monjolo
            Com o efeito gangorra, a água impulsiona a ferramenta fazendo-a ter movimento. Em uma extremidade, uma concha é cheia com a água, fazendo a outra parte, equipada com uma estaca, se levante. Ao esvaziar a cuba, o movimento se inverte. Com esse movimento, os grãos vão sendo socados e moídos dentro de um pilão. Obviamente, a tarefa é mais demorada quando comparada com os equipamentos elétricos atuais, mas há considerável economia de energia.
            Além da função primária do monjolo de descascar e moer grãos, nas fazendas pelo interior do Brasil ele tomou também outra importante função: espantar pacas e lontras que vinham do rio para se alimentarem e que estragavam a plantação. A cada batida da mão do monjolo no fundo do cocho, respeitando a periodicidade que a água lhe implicava, um som de madeira ecoava pela mata, assustando e afastando os animais.
Quintal do Casarão
(foto:Selma Galiza)
            Encontra-se até hoje, neste casarão,  as casas dos moinhos e algumas peças, porém desativadas. Pode-se encontrar também, na localidade, o córrego que tocava os moinhos, o monjolo e a gangorra.  (Selma Galiza)

***(Dados fornecidos por Dr.Pulquério Rabelo ao aluno da E.E.Cel.Francisco Ribeiro, João Gabriel Rabelo Ruas para complementação de uma pesquisa escolar na disciplina de História)


Selma Galiza e Silvete Galiza na Prainha
Fotografadas no ano de 1982 por Sílvio Galiza